Saltos de Luxo, Salários de Vergonha: Como Luís Onofre Ajuda a Apagar os Direitos dos Trabalhadores

📍 A verdade que a imagem esconde

Basta comparar a sofisticação das campanhas de moda da marca Luís Onofre com a realidade vivida por centenas de trabalhadoras despedidas em empresas do setor, para perceber a profundidade desta contradição.
Este artigo do SNPIC rompe com o silêncio, expõe a desconexão entre imagem e realidade e antecipa a denúncia de uma liderança patronal que sacrificou direitos em nome da aparência.
🧩 O Luxo Encobre o Retrocesso
📸 O brilho internacional
Luís Onofre é, para o grande público, o embaixador de uma indústria elegante. Associado a figuras como Michelle Obama, Letizia Ortiz ou Paris Hilton, promove uma marca que desfila sofisticação e inovação. Mas por trás da imagem reluzente, o que se esconde é uma estratégia que ignora o tecido real da indústria que representa.
🏭 A base que sustenta o luxo
Desde 1999, construiu uma marca centrada na visibilidade pessoal, recorrendo a:
- campanhas publicitárias milionárias;
- showrooms internacionais;
- parcerias de prestígio.
No entanto, a aposta foi quase exclusivamente simbólica. A expansão física foi tímida e falhada: lojas anunciadas em África e nos EUA nunca se concretizaram, e a loja no Porto foi encerrada em 2023 sem explicações públicas.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores da base produtiva continuaram a receber o valor mínimo de 2,50€ definido no CCT do setor do calçado, malas e afins como subsídio de alimentação.
Enquanto vendia ao mundo a "indústria mais sexy da Europa", Onofre promovia um desinvestimento estrutural nas condições laborais e deixava degradar o emprego qualificado. As empresas fecharam, os jovens abandonaram o setor, mas o foco da presidência da APICCAPS manteve-se na estética, não na ética.
O resultado é uma das maiores desconexões entre imagem institucional e realidade fabril da história recente do calçado português. É nesta linha que se inicia a análise do seu papel enquanto dirigente máximo da principal estrutura patronal do setor: a APICCAPS.
⚖️ A Face Patronal da Liderança

🗣️ Discursos antissindicais e silenciamento
Apesar da imagem institucional que cultiva, Luís Onofre tem sido alvo de alegações persistentes de comportamentos antissindicais dentro da sua própria empresa. Entre essas alegações incluem-se discursos hostis contra sindicatos e dirigentes, bem como pressões diretas sobre trabalhadores sindicalizados — o que se reflete no número diminuto de associados naquela unidade. Esta prática terá contribuído para um clima de medo e desmobilização, incompatível com os princípios de liberdade sindical.
📉 A promessa de 2022 e a realidade

Um episódio particularmente grave ocorreu em 2022, quando Onofre declarou publicamente que iria aumentar os salários dos seus trabalhadores em outubro daquele ano — e aconselhou outros empresários a seguir o exemplo. No entanto, findo o mês, nenhum aumento foi efetuado.
Após a denúncia pública do SNPIC, Onofre terá reunido com os trabalhadores, onde alegadamente denegriu o sindicato e os seus dirigentes, afirmando que não era mentiroso, mas que se preocupava com a carga fiscal que os trabalhadores poderiam suportar com o aumento. Dias depois, sob pressão do SNPIC, os trabalhadores foram compensados financeiramente — mas não com o aumento do salário base que havia sido prometido publicamente.
🧱 O CCT do patronato e a Portaria 112/2024
A eleição de Luís Onofre como presidente da APICCAPS, em 2017, foi inicialmente saudada como uma promessa de renovação. No entanto, rapidamente se revelou uma liderança centrada no poder e na exclusão sindical. A assinatura de um contrato coletivo com um sindicato sem representatividade, ignorando os sindicatos reconhecidos pelos trabalhadores, foi o ponto de viragem.
O momento mais revelador foi a tentativa de estender esse contrato a todo o setor através da Portaria n.º 112/2024. A APICCAPS pretendia que todos fossem abrangidos, mas a exclusão dos associados da FESETE só ocorreu graças à oposição determinada dos sindicatos representativos.
Fontes sindicais indicam que, após a publicação da portaria, a APICCAPS terá instruído empresas a não aplicar o contrato, temendo um crescimento da sindicalização.
Enquanto promovia uma imagem moderna, Onofre manteve-se em silêncio perante greves e denúncias. Apoiado por redes de poder e protegido mediaticamente, consolidou um modelo de liderança autoritário e hostil à democracia sindical.
Resumo: A presidência de Luís Onofre simboliza o abandono dos trabalhadores e a ascensão de uma estratégia patronal baseada no silenciamento e no controlo institucional.
🚨 Retrocesso e Desemprego no Setor
📉 Encerramentos e desemprego silencioso

A ausência de uma política real de defesa do emprego marcou o legado de Luís Onofre à frente da APICCAPS. Durante o seu mandato, dezenas de pequenas e médias empresas encerraram em silêncio.
Centenas de trabalhadores perderam os seus empregos sem qualquer resposta pública da associação. Muitos relataram não conseguir trabalho durante meses. Houve relatos de apoio comunitário, salários em atraso que bloquearam o acesso ao subsídio de desemprego, penhoras e até abandono escolar.

Segundo dados do setor:
- Entre 2015 e 2023, o número de empresas do calçado em Portugal diminuiu em mais de 600 unidades;
- Os postos de trabalho diretos sofreram uma quebra superior a 10 mil.
Esta erosão não foi acompanhada de qualquer plano de salvaguarda ou requalificação do setor.
O custo social da estética institucional
À medida que a marca pessoal de Onofre crescia, os trabalhadores perdiam estabilidade, os salários estagnavam e a profissão tornava-se cada vez menos atrativa. Apesar de alertas sindicais e promessas públicas, não surgiu uma política efetiva para defender os empregos ou as condições nas fábricas.
A presidência de Onofre priorizou a imagem externa da indústria, ignorando a realidade interna dos trabalhadores. O brilho internacional foi conquistado à custa de postos de trabalho, precariedade e silenciamento.
Resumo: Por trás da marca Onofre está o colapso de uma classe trabalhadora inteira, invisibilizada para manter a fachada de modernidade.
📢 Conclusão Sindical – A Hora da Verdade

🎭 Uma estratégia de ocultação
Luís Onofre representa a interseção perfeita entre uma estética empresarial sedutora e uma prática institucional regressiva. Sob o pretexto da modernização e da visibilidade internacional, comprometeu o equilíbrio entre capital e trabalho.
A sua gestão à frente da APICCAPS comprometeu décadas de conquistas sindicais, abriu portas a contratos coletivos impostos e normalizou a precarização da base produtiva.
Mais do que um problema individual, Onofre tornou-se o arquétipo de uma estratégia patronal que aposta no luxo como cortina de fumo — como se viu na tentativa de impor um contrato coletivo assinado com um sindicato sem representatividade, enquanto silenciava greves e denúncias de encerramentos.
O que está em causa não é apenas o seu percurso, mas o futuro de um setor inteiro ameaçado pela indiferença institucional.
✊ A resposta do SNPIC
O SNPIC publica este artigo como denúncia, mas também como convite à ação. Com décadas de história no setor, o Sindicato reafirma o seu compromisso com a defesa dos trabalhadores e a denúncia de todas as formas de exploração institucionalizada.
É hora de expor a incoerência entre o discurso e os atos, de rejeitar a manipulação mediática e de exigir uma APICCAPS que represente verdadeiramente quem produz.
